Tuesday, January 29, 2008

Tuning relationships

Um acidente entre adeptos do car tuning é do pior que se pode ver. É que a estrada é o ringue dos aficionados nesta “arte” e nestas coisas de lutas ninguém gosta de perder. Até os galos ficam severamente lixados quando perdem o título do galo da capoeira. Ainda por cima quando na capoeira estão as galinhas a assistir.
Ali também. No meio da estrada estavam dois carros um nadinha machucados para além do “machucanço” que o tuning é em si sem mais nada. Junto aos carros os “tuneiros” defendendo com gestos enraivecidos pontos de vista. Na berma, com caras tristonhas e entediadas, estavam as suas Marias – tuning completo tem que trazer acoplada uma acompanhante tão rebaixada e florida quanto o carro. Tentei avaliar qual a motivação para aquelas duas relações a três: Homem, mulher e carro, assumindo o carro outros papeis mais activos como o de motivo ou elo de ligação. De alguma forma aqueles aficionados do tuning cativaram aquelas mulheres e vice-versa. De alguma forma aqueles estilos estavam simpaticamente ligados. De alguma forma o carro encaixou na forma de ser de ambos. De alguma forma… O tuning tem em grande parte a ver com formas e formas…
Depois, a alguns metros do local, vendo todo o cenário apequenar-se pelo retrovisor, como elas, também eu fiquei triste e entediado… Afinal, com os carros esmurrados, todo o sentido daquelas relações se perdeu. Sem o carro ficariam ao deus-dará naquela monótona relação heterossexual. Nenhuma análise a relações sem sentido faz qualquer sentido. Fico sempre triste quando paradoxalmente o sempre acaba. Fico triste quando qualquer análise deixa de fazer sentido.

Wednesday, January 23, 2008

Rabih Abou-Khalil / Joachim Kuhn Trio

A programação do CCVF é elitista.
É cara quando analisada bem do interior das bolsas dos portugueses e, particularmente, dos vimaranenses.
É claro que terem uma programação que se apresenta cara ao público não a torna, por si só, elitista. É também evidente que por mais que se reconheça o elitismo congénito dos vimaranenses, principal público daquela instituição, esse elitismo não transforma, de igual forma, a programação do CCVF em elitista.
É um conjunto de factores que (não esquecer as propriedades sistémicas dos conjuntos), incluindo nele os acima referidos, tornam a sua programação dirigida fatalmente a uma minoria favorecida (os da elite). Pode não ser nada consciente mas há um conjunto de símbolos, estilos e condutas que me levam sentir e a ver a sua programação como elitista.
Então quem é esta minoria de pessoas favorecidas pela programação do CCVF?

São os empregados da câmara e suas redes, porque:

1. Têm acesso a bilhetes de graça.
2. O acesso a bilhetes de graça para uma minoria considerável encarece os bilhetes para a maioria não considerada nessa graça.

Rabih Abou-khalil foi excelente: Ele, o pianista alemão, Joachim Kühn, que segundo Rabih tocava aquele instrumento fácil de teclas brancas e pretas, “preto e branco para ser fácil” dizia-nos com piada num português espanholado, e o percussionista americano Jarrod Cagwin fizeram um espectáculo excelente. Eu gostei do espectáculo mesmo rodeado daquele ambiente elitista. Tive pena de não conseguir tirar uma única foto (há um vigia em cada canto da sala a encarecer os bilhetes)... talvez por não ser reconhecido nessa rede de redes que fazem o elitismo daquele espaço.




A foto que apresento em baixo ninguém ma pôde proibir. Foi na entrada para o parque de estacionamento, no elevador... Porque lá fora, lá fora apenas, todas as elites se desvanecem e perdem a consistência.


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Friday, January 11, 2008

Que os há, há!

Frankfurt Aeroport, Germany, 2008

Wednesday, January 02, 2008

Conversas de rapazes…

“Então man, tudo bem?

Que grande orgasmo hoje... comprei uma lingerie como prenda de Natal, 90 EUR... completamente transparente... fica-lhe um espectáculo... sou mesmo bom a comprar essa porcaria... só pelo orgasmo já valeu o dinheiro... imagina... uma lingerie fabulosa, umas botas, como todas as Holandesas gostam de comprar, sim nem imaginas as gatas que vês na Holanda a passar com mini saia e umas botas, claro nas suas bicicletas, elas adoram botas, de cano alto e usam com calças de ganga, por fora das calças, e com mini mini saias, fabuloso, mas continuando, botas lingerie, de pé e um espelho... hmmm... é bom estarmos na flor dos 33 e ainda a fazer umas coisas novas...”

Bem, passando à frente a parte do orgasmo, por este ser relativo - ao meu amigo, à sua namorada e ao espaço cognitivo de ambos – não havendo em espaços relativos nada a questionar ou a discutir com proveito, foquemo-nos na parte circunstancial do evento por este necessitar de um esclarecimento/ comentário/ explicação/ aparte/ provocação/ análise/ observação/ interpertação/ etc: “mas continuando, botas lingerie, de pé e um espelho... hmmm...”.
É importante debater e questionar onde estaria o espelho para entendermos até que ponto “ainda” estariam “a fazer umas coisas novas...”. Fixado no tecto à lá Motel de terceiro mundo?, não havendo no facto nada de novo nem de velho nem de ousado - a menos que o espelho se desprendesse durante o acto; Vertical na parede do quarto?, sendo a mais provável das aplicações e, também, a mais conservadora em todo o evento; Ou, assente cuidadosamente no chão, qual Sabina e o seu espelho na Insustentável Leveza do Ser de Millan Kundera. A opção do espelho no chão, embora não seja totalmente criativa, uma vez que foi descrita por MK há alguns anos atrás, parece-me a que melhor se encaixaria nas botas de cano alto, pretas, na lingerie transparente e na personalidade arrojada do meu amigo. Há um risco associado a esse cenário, especialmente se a nossa parceira usa botas de tacão alto e nós, os parceiros, nos encontramos descalços sobre o mesmo espelho. Há um risco do espelho se quebrar e de nos esvairmos em sangue, um preço insignificante a pagar por algum alento.